domingo, 30 de outubro de 2016

Um velho mundo novo

     Sim, preciso me render às evidências. Quisera não escrever isto, quisera não precisar parecer tão derrotista, mas, às vésperas das eleições americanas, hoje, um prefeito evangélico foi eleito aqui no Brasil, numa das maiores cidades da América Latina, um fundamentalista machista, um quase fascista, que não é capaz sequer de articular decentemente a seu próprio favor.
     Foi um mês atribulado, este. Hoje é dia das bruxas, Halloween, e incrivelmente, o feminino perdeu seu poder. Neste ano, especialmente, o feminino esteve tão subjugado, tão deprimentemente posto de lado, que é difícil acreditar que estamos realmente no século XXI.
     Falaram tantas coisas, neste mês. O presidente russo fez ameaças, se a mulher ganhar as eleições americanas. Fez ameaças, mas se trata apenas de retórica. Só que é uma retórica maldosa, que tem sua influência sobre os menos esclarecidos.
     E a quantidade que há de menos esclarecidos neste mundo está na eleição do Rio de Janeiro, está no ridículo movimento (feito aqui, no Brasil) a favor do candidato masculino às eleições americanas, está na migração cada vez mais forte de seguidores do profeta por todo o Globo.
     De quem é a culpa? Quem está por trás desta loucura burra que está assolando o planeta? Por que ninguém se atreve a enfrentar e falar às claras sobre isso?
     Ah, mas eu esqueci: sou louca. Eu sou louca! Nada do que eu digo, do que eu escrevo, é para ser levado em consideração.
     Hoje, faltam exatamente 8 dias para as eleições americanas. Eu sei que, talvez, só talvez, a mulher ganhe. Mas eu me lembro que, antes, eles escolheram não lançar a mulher para a presidência. Lançaram um afro-descendente. Sabiam que a mulher tinha poucas chances de ganhar. O afro-descendente ganhou.
     E agora? Será que a mulher tem chances de ganhar? Será que os americanos vão provar inteligência ou burrice fundamental?
     Por que isso me importa? Porque eu sou uma cidadã do mundo. E louca.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

BULLYING

     Este post é importantíssimo e sugiro que todos leiam a reportagem antes, é fácil, só clicar no link e será levado até lá. Aproveito o ensejo para explicar porque isto é tão mais comum do que se pensa e não acontece só na França ou na Europa, ou na América do Norte. Ninguém fala sobre esta questão, mas eu, desde muito pequena, sofria bullying quando este termo nem era conhecido. Falam agora sobre esta questão, mas falam apenas socialmente, moralmente, didaticamente, e ninguém vai ao âmago da questão. O que o bullying escolar ou o ciberbullying tem a ver com a questão que vou apresentar? A falta de conhecimento e a falta de estrutura social. E já vamos pensar sobre isto.
    O bullying que eu sofria não terminou, só que agora, por eu ser mais velha e teoricamente conseguir suportar, chamamos de preconceito, ou, quando mais grave, ódio. Ainda sofro todo o tipo de assédio moral e intelectual possível, principalmente agora que me assumi como descrente, definitivamente. Toda a literatura difundida pelo mundo, tanto a didática como a ficcional (a segunda, posso dizer que nem toda, mas grande parte, sim), tem como sustentáculo as obras consideradas sagradas: bíblia, torá e alcorão. Desta maneira, uma pessoa que busque respostas, que leia muito (o caso da menina e o meu) e que não se satisfaça com o que encontra o tempo inteiro, não achará outro caminho a não ser o isolamento, porque a discriminação e o preconceito são muito fortes. E não apenas por causa de religião, mas como sustentar moralidade se reafirmam indefinidamente que uma está diretamente ligada à outra? Há, sim, como ser moral e eticamente correto sem nos reportarmos à religião.
       Mesmo agora, que assumidamente me coloco como ateia (palavra que detesto, porque não é o que eu sinto, é o que a sociedade erigida sobre as obras citadas impõe), invariavelmente o que encontro são pessoas, também descrentes, contestando, criticando e lançando mão de humor, mas sempre citando tais textos, como se este fosse o único caminho possível para a desconversão.  Ou seja, até mesmo para contestar a fé precisam se valer de textos que fomentam a fé, a fim de sustentar a própria opinião.
     Somente quando entendermos que nosso conhecimento intelectual foi e vem sendo desenvolvido por pessoas que usavam a bíblia, o torá e o alcorão para raciocinar e elaborar importantes teorias, poderemos nos situar além e acima destes, e usar outros pensamentos, outras vertentes, mais céticas e verdadeiramente racionais, que nos darão estrutura e nos proporcionarão a verdadeira liberdade de pensamento. Enquanto difundirmos, para elogiar ou para criticar tais obras sagradas, simplesmente estaremos repetindo mais do mesmo, indefinidamente.
     Por isto, como cética, não gosto de ver reproduções de textos bíblicos, da torá ou do alcorão, dentro ou fora da escola, dentro ou fora dos meios acadêmicos, nem para criticar, nem para elogiar e enaltecer. Será que, em mais de 6 mil anos de história escrita, é só isto o que temos?