A cadeira está ali, bem na minha frente, feito cadeira, mesmo. Cadeira vazia.
E o abobalhado líder da aula, falando e falando, apresentando o seu trabalho, louco por uma boa nota.
Lá atrás outro imbecil com os olhos fitos em mim, ansioso por um olhar meu. Não vou olhar.
E o mestre conversando com o líder, o resto deles quietos, fingindo compenetração, quando suas mentes pensam nos namorados, na maconha esperando lá fora, a moto quebrada...
E eu escrevendo, fugindo e fingindo. Ele não vai ler, ei sei que não vai. Ele não gosta de ler o que eu escrevo. Até mesmo se eu pedir, mas eu não peço nunca mais. Vou esconder tudo, vou proibir.
Besteira, depois eu peço, eu sei. E ele promete que lê na primeira folga que tiver e esquece.
Mas eu esqueço também. Ele é mais importante dizendo que me ama do que lendo minhas frases bobas.
Vou voltar pra casa e amá-lo com vontade.
Na minha casa não há cadeiras vazias, porque não há cadeiras.
A cadeira continua ali, bem na minha frente, feito cadeira, mesmo. Cadeira vazia, mente vazia. Ele não lê, o outro me olha, ansioso, o líder repete as mesmas palavras, o professor comenta sua excelente atuação, e eu escrevo bobagens.
Mente vazia, ele não lê.
18/06/80
Achei importante postar este texto, tão antigo, porque é muito ilustrativo a respeito do meu casamento. Este texto foi escrito exatamente um mês e nove dias depois do casamento.
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